Ester x Ester
Após mais de um ano sem escrever nada por aqui, pretendo
retomar os “posts”. Sei que apenas uma meia-dúzia ou uma dezena de prim@s lê estas
bobagens, pois deixam comentários e também conversamos por outros canais.
Outras centenas de parentes não leem e, pior, não se dignam a oferecer ajuda
para construir ”nossas árvores”... Se estou desanimado? Claro que sim. De
qualquer maneira, não escrevo para estas centenas, mas para os “top ten”...
rsrsrs Feito o desabafo, vamos à história de hoje.
Nas conversas relatadas no post “Como tudo começa?”
(de 19/11/16), um dos nomes que surgiu foi o da “Tia Ester”, uma das irmãs do
meu avô paterno Aloísio (Luiz) Caldieraro. Em 2007, quando tive oportunidade de
pesquisar diretamente no “livro de família” de Montegaldella/VI (ver post “Dia
de São Martinho”, de 11/11/16), pude confirmar a existência da pequena Ester. Estava
lá, nas folhas da “Via Cittadello n. 167 e 168”: Ester, filha de Giovanni
Caldieraro e de Maria-Giovanna Milan, nascida em Montegaldella, em
11 de maio de 1884. E, ainda, na última coluna de anotações, a
observação: “Partida da família inteira para a América – Rio de Janeiro – em 12
de dezembro de 1884”. Portanto, Ester ainda não completara um ano de
idade, ao embarcar para o Brasil; já seus irmãos, Domenica e Beniamino, estavam
com 3 e 2 anos de idade, respectivamente.
Em junho de 2013, na minha visita à Nova Prata/Veranópolis
(ver post “Notizie dela famiglia – 001”, de 08/12/16), Duda Caldieraro e eu
encontramos, no Registro Civil de Nova Prata, o ato de casamento de Umberto
Toscan (27 anos), nascido na Itália, com Ester Caldieraro (22 anos), nascida no
Rio Grande do Sul (!?), realizado em 14 de setembro de 1912.
Quando retornei à Torres, e comecei a analisar os
documentos, veio aquela sensação de “putz... esse pessoal antigo gostava de
informar locais e datas incorretamente...” Mas, óbvio, continuei as buscas.
Alguns dias depois, o primo Ari, pesquisando no livro “Etnias
de Alfredo Chaves”(1), que nada mais é que o “códice SA-70”, encontra na folha 12, registros
204 a 209, informações sobre a “família de Giovanni Caldieraro”. Lá está
(literalmente):
204 Giovanni Calderaro, m, 31(a), cat.,
it., Vicenza, 1885
205 Maria Meleno, f, 29(a), cat.,
it., Vicenza, 1885
206 Domenica Calderaro, f, 11(a), cat.,
it., Vicenza, 1885
207 Luigi Calderaro, m, 4(a), cat.,
bras., RS
208 Ester Calderaro, f, 2(a), cat.,
bras., RS
209 Giovanna Calderaro, f, 11d,
cat., bras., RS
Em fevereiro de 2016, numa pesquisa relâmpago ao site
do Arquivo Nacional(2), meu primo Ari Uriartt e eu
encontramos a “Lista dos emigrantes existentes a bordo do vapor Coventina, em
17 de janeiro de 1885”. Na folha 2-verso, registros 103 a 107, apareciam os
nomes de Giovanni Caldieraro (30 anos), Maria, Domenica (3), Beniamino (2) e
Ester (1), confirmando, portanto, os registros de Montegaldella/VI...
E agora? As datas estão quase todas incorretas? A ordem
de nascimento dos filhos de Giovanni e Maria está errada? Difícil isso
acontecer... Nomes e datas (idades) são comuns apresentarem erros, mas na ”ordem
de nascimento dos filhos”, não... Olhando todas aquelas informações
inconsistentes, de “cabeça quente”, dá vontade de jogar tudo numa gaveta, e
ligar a televisão... Mas, não é assim que funciona. É hora de parar, respirar,
pensar...
Lembrei-me de um costume (um tanto macabro para os
dias de hoje) que nossos antepassados italianos do século XIX tinham, e então as
coisas clarearam. Naquela época (século XIX, e antes), o índice de mortalidade
neonatal era muito, muito alto. Também havia a tradição de repetir os nomes dos
avós nos filhos: o primogênito teria o nome do avô paterno, a primogênita teria
o nome da avó paterna, o 2º filho teria o nome do avô materno, e assim por
diante... Juntando “b” e “a”... Os pais batizavam a criança com o nome de um(a)
avô/ó... Se a criança “vingasse”, nos seguintes filhos iam colocando os nomes de
outros avós... Porém, se precocemente o “anjinho voava aos céus” (termos assim eram
usados nos registros de óbitos de recém-nascidos, ou de crianças de tenra
idade), os pais batizavam a “próxima criança” com o mesmo nome d@ maninh@
falecid@.
E aqui está a parte triste da historieta de hoje...
Observamos que Domenica, Beniamino e Ester (italianos) aparecem na lista de
passageiros do Coventina. Entretanto, no códice SA-70, não aparecem mais o Beniamino
nem a “Ester italiana”. E aqui o lado feliz... A Ester, mencionada no códice, é
mesmo gauchinha, nascida cerca de 2 anos após meu avô Aloísio (que aparece como
Luigi), e que, com 22 anos casou-se com Umberto Toscan.
Ester CALDIERARO e Umberto TOSCAN tiveram, pelo menos
5 filhos: Pierina (casada com um Luiz Felix BIAVATI), Leone, Tilde (casada com um
SCHUSTER), Palma (casada com um BERNARDI) e Valério (casado com Amábile GAMBIM).
Agora, leitores e não leitores, é hora de “colocar na
árvore” os descendentes do casal Umberto e Ester... Certo?
Notas:
1. Arquivo
Nacional – Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN) – Fundos e
coleções do Arquivo Nacional.
2. Etnias
de Alfredo Chaves – 1871 a 1891 / Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. –
Porto Alegre: EST, 2000, 328 p.